Macron apela a reequilíbrio nas relações económicas com a China e admite protecionismo
O Presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu um reequilíbrio urgente nas relações económicas entre a União Europeia (UE) e a China, alertando que, sem progressos, Bruxelas poderá ser forçada a adotar medidas mais protecionistas.
Num artigo de opinião publicado hoje no jornal britânico Financial Times, Macron sublinha que o excedente comercial da China com o resto do mundo atingiu já um bilião de dólares (850 milhões de euros), e que o desequilíbrio com a UE duplicou na última década, ascendendo a 300 mil milhões de euros.
"Esta situação não é sustentável, nem para a Europa, nem para a China", observa.
O chefe de Estado francês reconhece que a atual vaga de exportações chinesas para o mercado europeu se deve, em parte, às tarifas impostas pelos Estados Unidos e ao fraco consumo interno na China. No entanto, afirma que "responder com tarifas e quotas seria uma solução não cooperativa".
Macron apela antes a uma abordagem coordenada que passe por três frentes: reforçar a competitividade europeia, mobilizar a poupança para investimento interno e incentivar reformas estruturais na economia chinesa.
"O primeiro passo da Europa deve ser implementar uma nova agenda económica baseada na competitividade, inovação e proteção", defende.
Entre as prioridades, destacou a conclusão do mercado interno nos setores da energia, saúde e digital, investimentos em investigação disruptiva e tecnologias com elevado potencial de crescimento, e uma estratégia clara de redução dos riscos nas cadeias críticas de matérias-primas e tecnologias.
Macron defendeu também o direito da Europa a adotar uma "preferência europeia" para apoiar setores estratégicos como o automóvel, energia, saúde e tecnologia, desde que em conformidade com as regras internacionais. "Proteger contra a concorrência desleal é a base da resiliência", sustenta.
Quanto ao financiamento desta transformação, o Presidente francês propõe canalizar parte dos cerca de 30 biliões de euros em poupança acumulada na UE -- dos quais 300 mil milhões são investidos anualmente no estrangeiro -- para empresas europeias. "Está na hora de nós, europeus, assumirmos o risco de investir nas nossas próprias empresas", defende.
Para isso, propõe simplificação regulatória, maior integração dos mercados financeiros e a implementação de uma União de Poupança e Investimento. Defende ainda o reforço do papel internacional do euro, através da introdução de um euro digital e da emissão de ativos líquidos para financiar a defesa e a inovação tecnológica.
Macron sublinha, porém, que também a China tem responsabilidades. "Pequim precisa de corrigir os seus desequilíbrios internos", afirma, defendendo uma política fiscal mais favorável ao consumo e à transição para uma economia de serviços.
O Presidente francês apela ainda a um reequilíbrio nos fluxos de investimento direto estrangeiro (IDE), recordando que a UE investiu cerca de 240 mil milhões de euros na China, enquanto o investimento chinês na Europa ficou abaixo dos 65 mil milhões.
"A Europa deve continuar aberta ao investimento chinês nos setores onde a China lidera, desde que isso contribua para o emprego, inovação e partilha tecnológica", escreve.
Macron reitera o apelo a um quadro de cooperação económica entre UE, China e EUA, advertindo que, na ausência de progressos, a Europa terá de recorrer a "medidas mais firmes".
"Prefiro a cooperação. Mas, se necessário, defenderei o uso de medidas protecionistas", avisa, acrescentando que a presidência francesa do G7, no próximo ano, colocará o reequilíbrio das assimetrias globais no topo da agenda.
"Acredito que, se tivermos verdadeiramente em conta as necessidades e interesses de cada um, podemos construir uma agenda macroeconómica internacional que beneficie a todos", afirma.